Teologia no Renascimento e a Astronomia

Teologia na Modernidade em Mudança

Apresento agora um pequeno texto abordando um dos períodos históricos da teologia, pretendo comentar rapidamente o momento da Modernidade quando do Renascimento, onde temos uma Teologia em Mudança.  Especialmente essa teologia que tem no Renascimento a Astronomia como uma das ciências que precisam entrar em diálogo, devido às grandes mudanças de paradigmas.

A Teologia é uma ciência humana e social, como também o é a Filosofia, por exemplo. Ambas surgem a partir do homem (ser humano) através de suas reflexões e questionamentos. Diferentemente são as ciências naturais, como a Astronomia e a Física, estas apesar de também serem “descobertas” pelo homem estudam a natureza em si e não dependem da intervenção do ser humano.

A Teologia, a Astronomia e a Physis

Bem, a partir desta abertura acima pretendo neste texto fazer uma relação entre alguns conceitos estudados em teologia e um dos meus campos de estudo que é a astronomia e a physis através de uma visão filosófica. Acredito que esta seja uma boa reflexão teológico-filosófica, pois na história da teologia e do seu “desenvolvimento” observamos momentos bem conflitantes com a ciência, entre elas a astronomia, no entanto há outros momentos em que ocorre um “diálogo” ou pelo menos uma aceitação com a ciência, como é o caso, por exemplo, da “teoria da evolução”, claro que só em algumas denominações mais abertas ao diálogo e ao entendimento teológico.

Um conceito que quero destacar neste momento é o de “pericorese” que no sentido teológico quer dizer a relação harmônica nas pessoas da trindade, é um movimento circular e dançante, daí vem o termo “Coreografia” que quer expressar esta harmonia que se consegue em uma dança sincronizada como podemos observar, por exemplo, no “nado sincronizado”, um lindo espetáculo em que não há hierarquia e ninguém é mais importante do que o outro, assim ocorre na trindade.

Partindo desse conceito aplicado à Teologia, permita-me trazê-lo para a Astronomia, veja como os astros se relacionam, aparentemente, em harmonia, em uma “pericorese” celeste. Assim pensavam os pais da astronomia quando deram o nome de cosmos ao universo conhecido de então. Cosmos quer dizer ordem, beleza, harmonia, daí nasce o termo cosméticos, talvez por isso muitos usem esses produtos (brincadeira à parte).  O importante aqui é destacar o momento histórico que pretendo abordar que é a teologia na modernidade (teologia em mudança).

A Teologia em Mudança no período da Modernidade, o Renascimento

Uma das características deste período da teologia foi a mudança de um paradigma. Com o renascimento se muda da visão teocêntrica, e passamos a uma visão antropocêntrica, ou seja, o homem no centro, daí o termo humanismo. Da mesma maneira ocorre com o geocentrismo que começa a ser questionado e muda-se esta visão com outra quebra de paradigmas e passa-se a observar o heliocentrismo, fato interessante é que se dá com Nicolau Copérnico (um religioso) que inicia este processo.

A partir dessa guinada dada neste período, se passa a dar uma importância muito grande à ciência e ao homem, aliás é neste momento que está surgindo a ciência como a conhecemos hoje em dia. E René Descartes é um dos seus símbolos e precursores com o “discurso do método”, como nos lembra Marcondes em: Textos Básicos de Filosofia.

Descartes considerava um de seus objetivos primordiais a fundamentação da nova ciência natural então nascente, defendendo sua validade diante dos erros da ciência antiga e mostrando a necessidade de se encontrar o verdadeiro método científico que colocasse a ciência no caminho correto para o desenvolvimento do conhecimento, o que se propõe no discurso do método. (2005, p.73).

Antes que a teologia começasse a se abrir para o diálogo houve uma ruptura clara entre estas “ciências” nascentes e a teologia. Com essa problemática e falta de diálogo inicial e não abertura, ocorreram problemas como os de Galileu Galilei e Giordano Bruno por exemplo. Galileu com a questão de afirmar que a terra gira em torno do sol e não o contrário, além de dizer que a terra não é o centro do “universo”. E Giordano Bruno quanto a questão de postular que há múltiplos mundos e um universo infinito. Ambas as situações comprovadas pela ciência na atualidade.

Mudanças no processo da Razão ou do Racionalismo

Neste processo todo, percebemos também que o racionalismo se modifica dos tempos gregos para a modernidade no que tange o seu jeito de ser, agora ele está mais pautado na matemática no que diz respeito às ciências naturais e especialmente na astronomia. Para Descartes até mesmo Deus é uma “evidência” da luz natural e não da luz sobrenatural. É a razão que demonstra a existência de Deus. Não é mais o Deus de Moisés, de Abraão e de Jacó.

Quanto a isto poderíamos citar Albert Einstein quando disse: “Todos os que se envolvem seriamente na busca da ciência acabam se convencendo de que um espírito se manifesta nas leis do universo – um espírito muito superior ao do homem”, (Powell, 2005 p.12) Powell lembra que Einstein fala isso a um de seus alunos em 1936. É claro que tanto Descartes como Einstein eram homens de fé, e de certa forma buscaram a confirmação de suas crenças de maneira similar e racional.

Voltando ao racionalismo no que tange ao conhecimento temos que mencionar Kant que vai questionar a metafísica e a critica enquanto razão metafísica. A razão, diz ele, tem apenas um uso teórico, cognitivo, o de se criticar a si mesma, ser capaz de fixar limites para si mesma. Em a Crítica da Razão Prática, trecho mencionado por Châtelet diz:

Duas coisas enchem o coração de admiração e veneração, sempre novas e sempre crescentes, à medida que a reflexão se dirige e se consagra a elas: o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim (…) o primeiro espetáculo, de uma inumerável multidão de mundos, aniquila, por assim dizer a minha importância, por ser eu uma criatura animal que deve voltar à matéria de que é formado o planeta (um simples ponto no Universo) depois de (não se sabe como) ter sido dotada de força vital durante curto espaço de tempo. O segundo espetáculo ao contrário eleva infinitamente o meu valor, como o de uma inteligência por minha personalidade, na qual a lei moral me manifesta uma vida independente da animalidade e até mesmo de todo o mundo sensível. (1994, p.102).

Com tudo isso, temos um grande espanto e não conseguimos nos desvencilhar de algo que nos transcende. O thauma quanto aos fenômenos da Natureza e quanto ao Ser, serão esquecidos? Algumas situações ocorrem na modernidade e fazem com que o homem se afaste da ideia de imanência e da tentativa de compreender o mundo natural em sua inteireza, como nos lembra Brockelman e que transcrevo de forma reduzida:

Uma delas é a mundivisão cartesiana que retratava a realidade como dividida em dois aspectos, “espírito” e “matéria”, assim a natureza foi dessacralizada, e uma teologia ou cosmologia natural foi considerada impossível; 2. outra é que até meados dos séculos XIX as ciências naturais tinham-se fragmentado em inúmeras disciplinas separadas, cada uma com focos e formas de discursos diferentes. Assim excluíam o Todo e a interdependência dessas partes; 3. Por último temos que o próprio modelo de fazer ciência parecia impedir uma imagem abrangente do Todo na medida em que o objetivo era estudar e reduzir esses todos (incluindo a “natureza”) às suas partes. Assim os todos – e o Todo – foram simplesmente menosprezados porque a ciência estava demasiado fascinada com as partes para notá-los (e notá-lo). (2001, p.59-60)

Uma das características, portanto, a se destacar também neste período da história é o iluminismo que foi uma das maiores marcas da modernidade, a razão passa a ser cultuada como um novo deus e que levaria a humanidade ao esclarecimento. Nesse momento muitas igrejas ficam sem rumo e se fecham em si mesmas e passam a se defender e defender seus dogmas.

Vemos a partir deste exposto que haverá uma “crise da modernidade”, mas isso ficará para abordarmos em um outro momento.

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Abraços, Benito Pepe

Leia também o “Considerações quanto a Hermenêutica Fundamentalista”.

Bibliografia e Referências Bibliográficas

 BROCKELMAN, Paul. Cosmologia e criação: a importância espiritual da cosmologia contemporânea. 1.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

CHÂTELET, François. Uma história da razão: entrevista com Émile Noel. 1.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.

DESCARTES, René. Discurso do método. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre: L & PM Pocket, 2005.

KANT, Immanuel. Immanuel Kant: Textos seletos. Introdução de Emmanuel Carneiro Leão. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 2005.

LIBANIO, J. B.; MURAD, Afonso. Introdução à Teologia: perfis, enfoques, tarefas. São Paulo: Loyola, 2003, p. 112-160

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 9.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

 ______________. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 4.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

POWELL, Corey S. A equação de Deus: como Einstein transformou o conceito de religião. Tradução Ivo Korytowski. 1.ed. São Paulo: Arx, 2005.

 

 

 

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