Os nomes dos dias da semana na Cultura Ocidental Cristã

Como vimos antes na parte 1 e parte 2 deste texto, os nomes dos dias da semana vem de milênios, passando pela Suméria, Babilônia, Egito e chegando ao Mundo Ocidental através da Grécia e Roma, e pelos Judeus também. Dessa maneira, como veremos agora, os nomes dos dias da semana na Cultura Ocidental Cristã têm uma ressignificação, ainda que muitas nações usem nomes similares aos de sua origem. O que não ocorre em algumas línguas, especialmente o português como veremos. Antes precisamos passar por Roma… depois chegaremos aos cristãos e vamos ver também por que são 7 os dias da semana.

Os nomes dos dias da Semana para os Romanos

Os Romanos também foram influenciados por essa semana de 7 dias e passam a adotá-la no século I a.C. com o Calendário Juliano, da mesma maneira que os sumérios e babilônios, os romanos davam os nomes aos dias da semana de acordo com seus deuses.

Estes Romanos, como também aqueles povos antigos, só conseguiam identificar a “olho nu” 5 planetas, além de nossa estrela, o Sol, e de nosso satélite natural a Lua. São eles:

Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus, e Saturno.

Assim eram os nomes dos dias da semana para os Romanos:

Dies Solis (Dia do Sol) – domingo.

Dies Lunae (Dia da Lua) – segunda.

Dies Martis (Dia de Marte) – terça.

Dies Mercuri (Dia de Mercúrio) – quarta.

Dies Iovis (Dia de Júpiter) – quinta.

Dies Veneris (Dia de Vénus) – sexta.

Dies Saturni (Dia de Saturno) – sábado.

Como sabemos, estes termos vêm das línguas românicas, o latim, e têm como principais derivados o espanhol, o francês, o italiano e o português. Destas, a única língua que não traz mais os nomes dos deuses ou planetas nos dias da semana é o português, abordaremos isso à frente. Embora o sábado, pelo Shabat (Sabat) dos Judeus como vimos na parte 2 deste texto e, evidentemente o primeiro dia da semana, o Domingo (dia do Senhor), também não está em várias dessas línguas.

Os nomes dos dias da semana em inglês também são diferentes

Da mesma maneira que os romanos trouxeram os seus deuses para os nomes dos dias da semana, assim ocorre na tradição germânica e nórdica onde foram adaptados os deuses romanos com as suas próprias divindades. Você nota que uma espécie de Sincretismo é algo bem antigo, não é mesmo?

Apesar da língua inglesa ter origem nos povos germânicos, os nomes dos dias da semana também vieram dos romanos. Mais ou menos no ano 200 d.C., os germânicos adotaram o mesmo sistema e adaptaram as nomenclaturas de acordo com a sua própria cultura. Dessa maneira, como os romanos, eles buscaram referências em suas crenças, homenageando seus deuses (da mitologia nórdica), como Odin e Thor, por exemplo.

A partir de uma origem através dos deuses nórdicos, na Língua inglesa os Dias da Semana surgem assim:

Sunday: Sun’s Day – na mitologia nórdica o Sol era personificado pelo deus Sigel;

Monday: Moon’s Day – já a lua era personificada pela deusa Máni, irmã de Sigel;

Tuesday: Tyr’s Day – deus do combate e dos céus, foi o precursor de Odin;

Wednesday: Woden’s Day – Woden é uma variação do inglês antigo para o nome de Odin. O “pai de todos” era o líder dos deuses nórdicos e vivia em Asgard;

Thursday: Thor’s Day – um dos deuses mais conhecidos, Thor é o deus do trovão e filho de Odin;

Friday: Frigg’s Day – deusa da fertilidade, amor e união. É a esposa de Odin e madrasta de Thor;

Saturday: Saturn’s Day – o único dia que manteve sua origem romana, seu nome homenageia o deus Saturno.

Os nomes dos dias da Semana para os Cristãos

Essa grande mudança começa com a conversão do imperador romano Constantino que em março de 321 decreta que o descanso da semana deveria ser no dia do Sol, portanto ninguém poderia trabalhar neste dia, ficava fora desta obrigatoriedade quem trabalhava com a agricultura. Assim o Domingo, ainda chamado dia do Sol Invictus, ou seja, o Sol Invencível, seria o dia do repouso semanal.

Com o passar do tempo o primeiro dia da semana, o dia do Sol dos Romanos, passa a ser Dominicus Dies (também chamado Dies Dominicum, Dies Dominica, Dies Domini) o que, como vimos, quer dizer Dia do Senhor, em português: Domingo, que já era o dia do descanso conforme decretado anteriormente por Constantino.

Essas mudanças ocorrem por etapas

Toda essa mudança foi ocorrendo aos poucos, e o mundo greco-romano começa a adotar um novo Calendário diferente do que era usado anteriormente, centrado em Roma. Se passa então a ter uma nova centralização e dar mais importância a Jesus Cristo. A Cultura Ocidental Cristã estava se firmando, até que em 1582 o Calendário Cristão se torna oficial com o Calendário Gregoriano. A contagem dos anos passa agora a ser a partir do nascimento de Jesus Cristo.

Esse processo ocorre aos poucos… lá no Concílio de Niceia, constituído durante o império de Constantino em 325,  se toma, entre outras decisões, a reforma do Calendário que passa a ter uma face Cristã. Da mesma maneira, como vimos, o sétimo dia que era dedicado a Saturno, agora é a lembrança do Shabbat judeu, o dia que era consagrado no Antigo Testamento, como o dia do descanso. Assim este dia passa a se chamar Sabbatum, ou seja, Sábado dos Católicos e Cristãos em geral.

Quanto ao Domingo, como sabemos, é chamado o Dia do Senhor, pois foi nesse dia, o primeiro dia da Semana, que Jesus Ressuscita! É o nosso Domingo de Páscoa!

1Após o sábado, ao raiar do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria vieram ver o sepulcro. 2E eis que houve um grande terremoto: pois o Anjo do Senhor, descendo do céu e aproximando-se, removeu a pedra e sentou- se sobre ela. 3O seu aspecto era como o do relâmpago e a sua roupa, alva como a neve. 4Os guardas tremeram de medo dele e ficaram como mortos. 5Mas o Anjo, dirigindo-se às mulheres, disse-lhes: “Não temais! Sei que estais procurando Jesus, o crucificado. 6Ele não está aqui, pois ressuscitou, conforme havia dito. Vinde ver o lugar onde ele jazia. 7Ide já contar aos discípulos que ele ressuscitou dos mortos, e que ele vos precede na Galileia. Ali o vereis. Vede bem, eu vo-lo disse!” 8Elas, partindo depressa do túmulo, com medo e grande alegria, correram a anunciá-lo aos seus discípulos. (Mt. 28, 1-8)

Os dias da semana em português são diferentes, temos a “Feira”, por quê?

A origem da palavra feira vem de “feria” que quer dizer dia livre, daí a palavra férias. Muitos confundem o termo como se o mesmo quisesse dizer que seria um dia de feira como as “Feiras Livres” que ocorrem em muitas ruas das cidades, mas não é isso, como veremos.

Como dissemos a língua portuguesa é a única das descendentes da língua românica em que os nomes dos “deuses ou planetas” não aparecem nos nomes dos dias da semana, pois os mesmos foram substituídos por numerais. Essa mudança ocorre com São Martinho de Dume, que era bispo de Braga e no século VI,  julgava uma blasfêmia dizer que os nomes dos dias da semana teriam nomes pagãos e de deuses em sua homenagem. Ele dizia que não se poderia “dar nomes de demônios aos dias que Deus criara”, como chamar os dias da semana com o nome desses deuses, como por exemplo: Marte, Mercúrio, Jupiter e Vênus.

Uma Sugestão de São Martinho

Dessa maneira São Martinho sugere que durante a Semana Santa, não poderíamos nomear esses dias com aqueles nomes pagãos, lembrando que naquela época da idade média a Semana Santa era toda ela um “feriado” religioso, pois todos os dias eram consagrados e reservados para as orações, era de fato uma Semana Santa, toda ela em Feriado. Então, ele sugere: vamos chamar esses dias de feria, que significa exatamente: dia livre. Ele diz que deveríamos simplesmente numerá-los ordenadamente.

Por isso, depois do domingo (primeiro dia da semana), chamou-se o segundo dia simplesmente de Segunda Feira (dia de feria, ou seja, dia livre) e assim sucessivamente. A sugestão foi aprovada devidamente no 1º Concílio de Braga que ocorreu entre os anos de 561 e 563. Concílio este dirigido pelo próprio São Martinho, e depois acabou sendo definido que deveríamos nomear os dias da semana assim, em ordenação numérica, em todos os dias do ano e não somente na Semana Santa.

O Sábado (do Shabat) e o Domingo (dia do Senhor), já estavam consolidados e assim se mantiveram. Os outros dias, portanto, passaram a ser:  Feria Secunda, Feria Tertia, Feria Quarta, Feria Quinta e Feria Sexta. Evoluindo para como os nomeamos hoje em dia.

No entanto como foi proposta por um bispo português, São Martinho, e foi em um concílio regional e não em um concilio ecumênico universal, a decisão só ficou valendo para Portugal mesmo. Por esse motivo outros países como a Espanha, vizinha de Portugal, a França e a Itália mantiveram os nomes dos dias da semana com sua origem dos deuses-planetas.

E por que são 7 os dias da Semana?

A palavra “Semana” vem do latim septiman que significa “sete manhãs” e tem sua origem, como vimos na parte 2 deste texto, desde a Babilônia.

Provavelmente os dias da semana são contados em 7, pois tem a ver com as fases da Lua, que normalmente são divididas em 4 fases: lua nova, crescente, cheia e minguante. Na verdade, a fase completa da Lua dura 29,53 dias, dessa maneira é necessário um ou dois dias ao final de cada fase a fim de completarmos um mês.

Coincidência ou não, não sabemos ao certo, mas que tem uma certa lógica tem, os “objetos celestes” que se movem, vistos a “olho nu”, são exatamente em número de 7, e homenagear esses “sete luzeiros” móveis, coincidia com as 4 fases da Lua, a propósito um dos objetos reluzentes (sabemos que a Lua não tem luz própria, aliás somente o Sol, destes “luzeiros” tem luz própria, pois os outros são Planetas e portanto não tem luz própria, apenas refletem a luz do Sol, como também o faz a Lua).

O Sol é homenageado com o primeiro dia da Semana, a Lua com o Segundo. Depois os outros “luzeiros”, como vimos: Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno, assim completavam-se os 7 dias da semana para aqueles povos antigos.

Considerações finais e Algumas Reflexões

Percebemos claramente neste texto em que abordamos a História dos Nomes dos Dias da Semana, que estes passaram por diversas modificações, e em sua grande maioria, por motivos religiosos e pelo sincretismo.

Nos últimos séculos tivemos uma tentativa de cristianizar os nomes dos dias da semana, de fato isso foi feito especialmente na língua portuguesa. Não obstante, os mesmos vieram de uma origem pagã, passaram pela cultura judaico-cristã, e hoje como estamos?

Pergunto para reflexão: o mundo que se diz cristão, tem suas leis cristãs? Depois você pode ler este texto que falo sobre isso.

Propondo Mais Outras Reflexões…

Será que embora algumas Denominações Cristãs, além dos Judeus, guardem o Shabat (Sábado) e a maioria dos ditos Cristãos guardem o Domingo (Dia do Senhor Jesus Cristo), eles de fato o guardam?

Digo isso por uma simples reflexão, se você é ateu, podemos entender… qualquer dia é qualquer dia. Agora, se você diz que Acredita em Deus e vive como se ele não existisse, isso não seria antagônico, uma contradição?

Bem, temos 6 dias inteiros da semana para trabalhar, estudar, nos divertir etc., será que não conseguimos, ainda que não um dia inteiro, mas um pedacinho de um destes dias ou melhor ainda no Domingo, um horário para o Culto ou a Missa? Só para pensar…

Parece que o mundo está novamente se paganizando e deixando de lado a sua epifania e sua misticidade. As festas de Natal (que já foi uma festa pagã e foi cristianizada) e outras mais importantes como a Páscoa, será que vão se tornar pagãs. O Natal foi pagão e está voltando a ser assim em muitos lugares, a Páscoa que sempre foi uma festa religiosa, também passa por essa possibilidade.

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Abraços, Benito Pepe

Bibliografia e Referências Bibliográficas

LIMA, Luís Corrêa. Quando nosso mundo se tornou cristão [312-394]. VEYNEPaulRio de JaneiroCivilização Brasileira, 2010. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/17956/17956.PDF Acesso em fevereiro de 2024.

PEPE, Benito. Origem dos Nomes dos dias da Semana. Disponível em: https://www.benitopepe.com.br/2024/02/17/origem-dos-nomes-dos-dias-da-semana/ Acesso em fevereiro de 2024.

_____________. Os Dias da Semana na Cultura Milenar da Suméria, Babilônia e nos Judeus. Disponível em: https://www.benitopepe.com.br/2024/02/23/os-dias-da-semana-na-cultura-milenar-da-sumeria-babilonia-e-nos-judeus/ Acesso em fevereiro de 2024.

UFRGS – Instituto de Física. História da Astronomia. Disponível em: https://www.if.ufrgs.br/tex/fis01043/20042/felipe/historia.html . Acesso em fevereiro de 2024.

VIEIRA, Fernado. Identificação do Céu. 3ª ed. Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro, 2002.

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2 Comentários
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Monica
1 mês atrás

Matéria ótima como sempre! 👏🏼👏🏼

Benito Pepe
1 mês atrás
Responder a  Monica

Obrigado pelo carinho Mônica!
Abração, Benito Pepe

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