Os Concílios da Igreja e o Conceito de Trindade

Veja o Início deste artigo: A Formação do Conceito de Trindade

3º Concílio – o de Éfeso – em 431

Estamos apenas dando uma pincelada nos primeiros concílios da igreja com o objetivo de identificarmos, o caminho e a história percorrida para a formação do Conceito de Trindade, a propósito lembramos que este termo “Trindade” já havia sido usado antes por Tertuliano (*155 / +220).  Esses concílios que estamos abordando nos lembram os nomes de algumas cidades entre outras também que foram muito importantes para o cristianismo, dessas cidades, destacamos: Roma no ocidente, Jerusalém e Antioquia, importantes para o cristianismo nascente, e Alexandria e Constantinopla no oriente entre as que se destacam nesse contexto. Com relação a Alexandria, era um centro cultural e é de lá que vem, por exemplo a Septuaginta – os livros do Antigo Testamento traduzidos para o Greco Koiné isso ainda entre os séculos III e I Antes de Cristo.

Esses fatores são importantes a serem destacados, pois a helenização, ou seja, a influência da cultura grega, foi definitiva para a formação da doutrina cristã que foi sendo desenvolvida aos poucos nos concílios, o Conceito de Trindade é uma teologia com muita base nessa cultura e filosofia. No entanto há fatores que podemos chamar de positivos e outros nem tanto, por exemplo quanto ao dualismo e sua problemática.

Este concílio foi convocado também por um imperador e agora foi Teodósio II, o concílio condenou Nestório ou o nestorianismo que defendia as duas naturezas de Jesus como distintas, uma seria a humana e a outra a divina. Neste concílio também foi condenado o “quiliasmo” uma espécie de pré-milenismo uma ideia escatológica que é muito difundida em algumas igrejas pentecostais. Outra condenação foi a do Pelagianismo que defendia que o ser humano é responsável por sua própria salvação, ou seja, não dependeria da graça de Deus, Agostinho foi importante nessa condenação contra Pelágio. Outra definição importante nesse Concílio tem a ver com Mária mãe de Jesus, que é definida como Theotokos, ou seja, mãe de Deus.

4º Concílio – o de Calcedônia – em 451

Outro concilio muito importante, talvez o mais importante da antiguidade quanto a Cristologia foi o Concílio de Calcedônia em 451 e foi neste concílio que as duas naturezas de Cristo se harmonizam, vamos ver isso em seguida, mas antes lembramos que Leão I, conhecido como São Leão Magno, aborda e reflete sobre Mateus 16, no qual destacamos o trecho abaixo:

15Então lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” 16Simão Pedro, respondendo, disse: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo”. 17Jesus respondeu-lhe: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isso, e sim o meu Pai que está nos céus. 18Também eu te digo que tu és Pedro,” e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela. 19Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado? nos céus”.[1]

É, portanto, nesse contexto que se tem a supremacia de Roma sobre as outras igrejas, Pedro teria sido essa pedra fundamental.

Além disso esse concílio condena o Eutiquianismo, que negava que Jesus tivesse duas naturezas, para Êutico, Jesus não teria duas naturezas pois o logos tomando a alma/espírito de Jesus o fez apenas com uma natureza espiritual e divina, é o que se chamava monofisismo.  Nesse momento, portanto, se afirmam as duas Naturezas de Jesus: uma humana e outra Divina, e que estas não se misturam, são imutáveis, indivisíveis e inseparáveis. Assim nesse concilio se fecha este principal ciclo Cristológico com a definição de que Jesus tem duas naturezas que se unem harmonicamente em uma única pessoa, sem se misturarem, sendo imutáveis, indivisíveis e inseparáveis, como mencionamos acima.

Considerações Finais

Como vimos, os “Concílios da antiguidade”, ou seja, os Concílios da Igreja, foram de suma importância para a definição do Conceito de Trindade, ademais é um conceito aceito por grande parte, senão pela maioria das Igrejas Cristãs, e conforme se pode sintetizar ou resumir, esse Conceito diz que

O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. Só Deus no-lo pode dar a conhecer, revelando-se como Pai, Filho e Espírito Santo.

A Encarnação do Filho de Deus revela que Deus é o Pai eterno, e que o Filho é consubstancial ao Pai, isto é, que ele é no Pai e com o Pai o mesmo Deus único.

A missão do Espírito Santo, enviado pelo Pai em nome do Filho e pelo Filho “de junto do Pai” (Jo 15,26), revela que o Espírito é com eles o mesmo Deus único. “Com o Pai e o Filho é adorado e glorificado.”

“O Espírito Santo procede do Pai enquanto fonte primeira e, pela doação eterna deste último ao Filho, do Pai e do Filho em comunhão”.

Pela graça do Batismo “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19) somos chamados a compartilhar da vida da Santíssima Trindade, aqui na terra, na obscuridade da fé, e para além da morte, na luz eterna. [2]

Deus é Pai, mas também é Filho, o que nos faz pensar que não há uma hierarquia no sentido restrito da palavra, mas há amor em uma relação amistosa e sublime como se dá com a humildade e o esvaziamento do Deus Pai que vem como Filho à Terra para se tornar um de nós, nessa Kénosis, Deus visita e convive com suas obras da criação, em Carne, e com o poder do Espírito Santo vem coexistir no Cosmos, obra de suas mãos. Dessa maneira o Pai (Elohim), deixa claro sua “delegação” ao Filho que tem, em si mesmo, e de maneira retroalimentada a sua essência juntamente com o Espírito Santo que vive exponencialmente com a humanidade em que Ele, Jesus Cristo, pôde conviver em Carne, em pessoa, por um tempo na Terra e agora permanece através de seu Espírito Santo.

Nesse contexto entendemos também que a Trindade em suas duas dimensões: Trindade econômica e Trindade imanente, devem nos levar a ação e cooperação, com o mistério que não só se apresenta na Trindade, mas na própria vida ordinária e no Cosmos de nossa existência, como diz REINERT:

A revelação econômica da Trindade imanente, ou seja, a manifestação histórica de Deus na realidade humana se dá em vista de nossa participação no mistério salvífico. Deus Trino não se manifesta simplesmente para responder à curiosidade humana, mas para que participemos de sua vida e entremos em comunhão com a comunhão maior que é a Trindade. A revelação, portanto, está em vista da salvação do gênero humano, daí a expressão “economia da salvação” ou “Trindade econômica”.[3]

Esperamos que este artigo tenha gerado a curiosidade para entender um pouquinho dos Concílios da Igreja e o Conceito de Trindade, esse artigo é apenas para gerar a curiosidade de quem pretende ter uma noção do Conceito de Trindade. Abaixo segue uma pequena Bibliografia que pode ser consultada para quem desejar aprofundar um pouco mais esse conhecimento.

 

[1] BÍBLIA. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Editora Paulus, 2002. Mt 16, 15-19

[2] CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000. p. 79; CIC 261-265.

[3] REINERT, João Fernandes. Trindade: mistério de revelação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2021. p.108.

 

Bibliografia e Referências Bibliográficas

Livros

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. 5.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

BÍBLIA. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Editora Paulus, 2002.

CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Edição típica Vaticana, Loyola, 2000.

REINERT, João Fernandes. Trindade: mistério de revelação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2021.

SCHNEIDER, T. (org.). Manual de Dogmática, Volume II. 5ª. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

Artigos na Internet

MIRANDA, Daniel Guanaes de. Leonardo Boff e João Calvino: diferentes perspectivas concernentes à Santíssima Trindade.  Disponível em: https://www.monergismo.com/textos/jcalvino/Boff-Calvino-Trindade_Daniel-Leite.pdf /Acesso em: 17/03/2025.

AQUINO, Filipe. Canção Nova. Formação. Tradição. Saiba como surgiu a oração do credo e porque é o resumo da fé cristã. Disponível em: https://formacao.cancaonova.com/igreja/doutrina/saiba-como-surgiu-a-oracao-do-credo-e-porque-e-o-resumo-da-fe-crista/ Acesso em: 22/03/2025.

CATÓLICO Orante. Orações. Ocasiões Especiais. Credo Niceno-Constantinopolitano.  Disponível em: https://www.catolicoorante.com.br/oracao.php?id=16 Acesso em: 22/03/2025.

Vídeos

MELO, Jansen Racco Botelho. Café com Teologia. O Concílio de Niceia e o problema da Cristologia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AEKP3wymzUg Acesso em: 18/03/2025.

________________________________________. Concílio Constantinopla I e a Divindade do Espírito Santo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Vwf8vq7hdE4 Acesso em: 19/03/25.

_________________________________________. Qual a relação entre o Concílio de Éfeso e o conceito de “Sola Scriptura”? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HM5p6gMRLw&list=PLOEkl8H5O56G6zFZb3jK3fxQHKlL1aZqZ&index=5  Acesso em: 19/03/25.

_________________________________________. Como as duas naturezas de Cristo se harmonizam? Concílio de Calcedônia 451. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=p_pZQT-2-TA Acesso em: 19/03/2025.

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