Busto de Parmênides e Heráclito

Parmênides e Heráclito

Parmênides e Heráclito são dois dos “filósofos” chamados pré-socráticos, aqueles que vieram antes de Sócrates, na verdade essa distinção não é tão cronológica e sim “ideológica” ou melhor ligada ao “objeto de seus estudos”. Estes nomes: Parmênides e Heráclito, são dois nomes dos quais não podemos deixar de considerar e estudar profundamente. A base do pensamento ocidental certamente tem muito apoio em seus pensamentos.
Comumente declaram-se opostos os pensamentos de Parmênides e Heráclito. Enquanto para Parmênides o Ser não é gerado, é imóvel, imutável, incorruptível, igual, esferiforme e uno; para Heráclito não há o imutável, tudo flui “não se pode entrar no mesmo rio duas vezes” na segunda vez nem o rio nem você são os mesmos… Mas é claro que notamos, se prestarmos bastante atenção, algumas afinidades em seus pensamentos. Numa interpretação mais aprofundada dos fragmentos de Heráclito e Parmênides, podemos achar um mesmo todo para os dois e esta oposição entre suas visões do todo passa a ser cada vez menor.
Assim não há efetiva oposição entre Heráclito e Parmênides, já que o primeiro fala do cosmo em mudança incessante, ao passo que o segundo se refere ao “ser supra cósmico”, o princípio supremo subtraído à mudança, que coincide com o logos de Heráclito.

Outro ponto importante é como ambos veem o sensível ou os sentidos.

Parmênides

Parmênides nasceu em Eléia (atual Velia, entre Punta Licosa e Cabo Palinuro no sul da Itália), viveu entre o século VI e V a.C, cria a chamada escola Eleática (que vem de Eléia) e que transmite grande influência ao pensamento grego. Quanto a filosofia da Physis é um inovador radical, com ele a cosmologia recebe um profundo abalo do ponto de vista conceitual, transforma-se em uma Ontologia (teoria do ser).Assim como outros pensadores pré-socráticos, Parmênides enfrentou uma questão central: a busca de um princípio, ou arché, subjacente a todas as coisas, e a determinação de um traço de união entre esse princípio e a realidade do mundo físico, em constante mutação. Para Parmênides, tudo o que existe constitui uma única realidade: o ser, que ele identifica com o pensamento, uma vez que só se pode pensar sobre aquilo que existe.

È um dos primeiros racionalistas. Racionalista é aquele que acredita que a fonte primária do “conhecimento” do mundo está na Razão.

O Caminho da verdade (alétheia) e o caminho da opinião (dóxa)

Parmênides em seu poema Sobre a Natureza, onde diz ter sido guiado pelas éguas em um “carro” veloz em companhia das filhas do Sol, e é levado até onde o seu desejo quer chegar, defronta-se com várias vias (caminhos), que lhe são mostrados pela deusa (que simboliza a verdade que se revela). Estas três vias são:

1) a da verdade absoluta;
2) a das opiniões falazes (a doxa falaz) – a falsidade e o erro;
3) a outra via é a da opinião plausível (a doxa plausível).

O primeiro Caminho mostra que “o ser é e não pode não ser; o não ser não é e não pode ser de modo nenhum”.

Desta maneira é delimitada a via da “verdade absoluta” (a via do ser) em oposição com a “falsidade” (a via do não ser).

Assim tudo aquilo que se pensa e diz, é. Pensar e ser é o mesmo, não se pode dizer o não ser. Daí aponta-se a primeira formulação do principio da não contradição (principio que afirma a impossibilidade de que os contraditórios coexistam ao mesmo tempo) por exemplo uma “coisa” não pode ser algo e ao mesmo tempo outra: uma parede não pode ser Azul e Amarela ao mesmo tempo; podemos afirmar que ela não seja Amarela, mas não dizer o indizível.

A visão de Parmênides é mais ampla do que se pode pensar em principio “este” ser é “não-gerado” e “incorruptível”. Se fosse gerado teria que derivar de um não ser, o que seria absurdo, dado que o não-ser não existe, ou teria que ter derivado do ser o que também seria absurdo porque ele já existiria. Por essas razões é impossível que o ser se corrompa. Então o ser não tem um passado nem um futuro é um eterno presente. Como dissemos no inicio deste texto: o Ser não é gerado, é imóvel, imutável, incorruptível, igual, esferiforme e uno.

O segundo Caminho mostra que a verdade é o caminho da Razão (a senda do dia) e o caminho dos sentido é o caminho do erro (a senda da noite) os sentidos nos mostram movimentos, o nascer e morrer, assim a deusa alerta a Parmênides para não se deixar levar pelos enganos dos sentidos e pelos hábitos que eles criam.

“Afasta o pensamento desse caminho de busca e que o hábito nascido de muitas experiências humanas não te force, nesse caminho, a usar o olho que não vê, o ouvido que retumba e língua: mas, com o pensamento, julga a prova que te foi fornecida com múltiplas refutações. Um só caminho resta ao discurso: que o ser existe”.

O terceiro Caminho é o das “aparências plausíveis” na segunda parte do poema a deusa faz uma exposição do “ordenamento do mundo conforme ele aparece”.

Segundo Parmênides os opostos se devem pensar como incluídos na unidade superior do ser: ambos os opostos são “ser”. Parte assim para a dupla de opostos: “luz” e “noite” e etc.

Está claro que assim como o não-ser estava eliminado, também estava eliminada a morte, que é uma forma de não-ser.

Para Parmênides a obscura “noite” (o frio) em que o cadáver se encontra não é o não-ser, isto é, o nada; por isso o cadáver permanece no ser e , de alguma forma, continua a sentir e, portanto, a viver…

Para alguns estudiosos: Parmênides fundou a metafísica ocidental com sua distinção entre o Ser e o Não-Ser.

Fixando sua investigação na pergunta: “o que é”, ele tenta vislumbrar aquilo que está por detrás das aparências e das transformações.

Heráclito

Heráclito viveu entre os séculos VI e V a.C, ou seja foi contemporâneo de Parmênides. Nasceu em Éfeso, escrevia através de aforismos e intencionalmente de forma obscura “para que deles se aproximassem apenas aqueles que conseguissem”, seu estilo lembrava as sentenças dos oráculos, era chamado “Heráclito o obscuro”.

Heráclito, ao contrário de Parmênides, vai dizer que tudo flui. Se Parmênides era o filósofo do ser, Heráclito era o do vir-a-ser, do devir. Para ele, tudo está em contínuo movimento, ou seja, tudo flui.

“Tudo se move, ‘tudo escorre’ (panta rhei), nada permanece imóvel e fixo, tudo muda e se transmuta sem exceção”. A famosa frase de Heráclito para justificar seu pensamento é: “Não se pode descer duas vezes no mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substancia mortal no mesmo estado (…) Nós descemos e não descemos pelo mesmo rio, nós próprios somos e não somos.”

A “harmonia dos contrários” em Heráclito está no sentido de que há uma continua passagem de um contrário ao outro: as coisas frias se aquecem, as quentes se esfriam; daquilo que está “morto” nasce outra vida nova (como é o caso da “semente” de uma árvore). A harmonia dos contrários também se nota no Arco e na Lira.

“A doença faz da saúde algo agradável e bom”, ou seja, se não houvesse a doença, não haveria porque valorizar-se a saúde.

O “principio” (a arché) com o fogo e com a inteligência. O fogo expressa as características de mudança continua, o contraste e a harmonia. O fogo está em continuo movimento, é vida que vive da morte do combustível…

Segundo Heráclito, o fogo é o elemento primordial de todas as coisas. Tudo se origina por rarefação e tudo flui como um rio. O cosmos é um só e nasce do fogo e de novo é pelo fogo consumido, em períodos determinados, em ciclos que se repetem pela eternidade.

Em seu livro – “Do Céu”, Aristóteles escreve: “Heráclito assevera que o universo ora se incendeia, ora de novo se compõe do fogo, segundo determinados períodos de tempo, na passagem em que diz – Acendendo-se em medidas e apagando-se em medidas.”

O fogo é como “raio que governa todas as coisas”. E o que governa todas as coisas é “inteligência” é “razão”, é “logos”, é “lei racional” É preciso precaver-se quanto às opiniões dos homens, que estão baseadas nas aparências. É preciso estar atento em relação aos sentidos, pois eles “apenas” mostram a aparência das coisas…

A “natureza da alma e o destino do homem”. Heráclito interpreta a alma como fogo dando-lhe uma dimensão infinita, a ideia órfica de que a vida do corpo é mortificação da alma e a morte do corpo é vida da alma, é uma das ideias dos Órficos acolhidas por Heráclito, assim também ele acreditava em castigos e prêmios depois da morte, em suas palavras: “Depois da morte, esperam pelos homens coisas que eles não esperam nem imaginam”.

“O Deus é dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, saciedade-fome; mas se alterna como o fogo, quando se mistura a incensos, e se denomina segundo o gosto de cada um.”

Espero que tenha gostado de um pouco de Parmênides e Heráclito.

Abraços do Benito Pepe

Bibliografia

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia, 7v.; tradução de Ivo Storniolo; 1.ed. São Paulo: Paulus, 2006.

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34 Comentários
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Paulo
14 anos atrás

Gostaria de saber se o ser de Moises e o ser de Parmênides são o mesmo. porque Parmênides é tão escondido na filosofia se foi ele que descobriu o ser?

Benito Pepe
14 anos atrás

Olá Paulo, Moisés e o Ser de Parmênides, em princípio, não tem nada a ver. Na verdade Parmênides não é escondido na filosofia, muito pelo contrário, quem estuda filosofia certamente vai ouvir falar e estudar os pré-socráticos e, entre eles, não se pode deixar de ver Parmênides e Heráclito, por exemplo.

Quanto a Parmênides ter “descoberto” o Ser, não entendi o que você quis dizer com isso, na realidade a questão do Ser é uma das questões filosóficas das mais antigas e continua até nossos dias como objeto de estudo. Talvez o que você tenha pretendido dizer é que ele foi o primeiro a expressar essa questão com profundidade, isso sim. Foi ele, através do “Poema “ conhecido como o “Poema de Parmênides” quem levantou estas questões e reflexões sobre o tema “Ser”.

Abraços do Benito Pepe

Antonio
13 anos atrás

Ola Benito Pepe, obrigado por ter respondido o meu e-mail e tambem pelas grandes contribuições que tens dado para a pesquisa.
Vamos continuar pesquisando.
Um forte abraço! Antonio

Benito Pepe
13 anos atrás

Olá Antonio, agradeço sua colaboração também. Volte sempre e deixe seus comentários nos diversos textos que tenho publicado. Vamos continuar pesquisando.

Abraços do Benito Pepe

Shirley
12 anos atrás

Olá Pepe,
Nossa muito boa sua espanação sobre o poema de Parmênides e Heráclito. Comecei a ler e tive serias dúvidas, ou seja, iria chegar na aula de filosofia cheia de interrogação, mas agora o texto ficou mais claro – rsrsr. Sua contribuição é excelente.
Obrigada.
Um abraço,
Shirley

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