Considerações Iniciais
Para pensarmos a formação do Conceito de Trindade, Iniciamos este texto lembrando a “historinha” que se conta de um “caso ocorrido” com Santo Agostinho. Dizem que Santo Agostinho estava passeando pela areia de uma praia quando se defronta com um menino que estava retirando a água do mar com um baldinho e a pondo em um buraco feito nas areias da praia. Então, Santo Agostinho teria perguntado ao garotinho: – o que você está fazendo? o menino disse: – estou tirando toda a água do mar e a vou por aqui. Nisso Santo Agostinho dá um sorriso e diz: – Você não está vendo que isso é impossível? O menino, assumindo um semblante severo e brilhando com uma luz angelical, disse-lhe: – achas que isso não é possível? Pois bem, fica sabendo que é mais fácil colocar toda a água do mar para este buraco do que compreender com uma mente limitada o mistério da Santíssima Trindade!
Bem, essa “historinha” nos mostra a dificuldade da compreensão do tema, mas não elimina em nós o espírito filosófico-teológico de investigar e procurar saber e entender, dentro do possível de nossa mente e linguagem humana limitada, o que é e como se formou o Conceito de Trindade. Ademais, podemos logo de início, mencionar o que diz o “Catecismo da Igreja Católica”[1] quanto a formação do Dogma Trinitário, o que se pode ver, principalmente, entre os parágrafos 249 e 267. Para ilustração, mencionamos esses que citamos abaixo:
Começamos com este parágrafo que aborda os motivos e os fatores históricos que levaram a essa formulação.
No decurso dos primeiros séculos, a Igreja procurou formular mais explicitamente sua fé trinitária, tanto para aprofundar sua própria compreensão da fé como para defendê-la de erros que a estavam deformando. Isso foi obra dos Concílios antigos, ajudados pelo trabalho teológico dos Padres da Igreja e apoiados pelo senso da fé do povo cristão.[2]
Como veremos, os Concílios antigos foram determinantes para a formatação e definição do conceito de Trindade. Ademais,
Para a formulação do dogma da Trindade, a Igreja teve de desenvolver uma terminologia própria, recorrendo a noções de origem filosófica: “substância”, “pessoa” ou “hipóstase”, “relação” etc. Ao fazer isso, não submeteu a fé a uma sabedoria humana, mas imprimiu um sentido novo, inaudito, a esses termos, chamados a significar a partir daí também um Mistério inefável, que “supera infinitamente tudo o que nós podemos compreender dentro do limite humano”[3]
Como poderemos ver nessa empreitada, os Concílios, principalmente os quatro primeiros, foram primordiais quanto a Cristologia, entre eles a definição da Divindade de Jesus (1º Concílio – Niceia) e do Espírito Santo (2º Concílio – Constantinopla), tanto quanto outros termos e aspectos que veremos.
Como Surge a Doutrina da Trindade
Como grande parte dos conceitos e tentativas de definições, este conceito de Trindade também surge após haver algumas divergências e atritos quanto a temática sobre Cristologia, seria Jesus Deus? A divindade de Jesus não estava clara para aqueles cristãos antigos, da mesma forma quanto ao Espírito Santo, hoje para quem é cristão está muito obvio que o Espírito Santo é Deus, está bem definido que há três pessoas da Santíssima Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Mas isso nem sempre foi assim, houve, o que hoje nós chamamos de erros ou heresias, e teses que não apoiavam a Trindade como nós a conhecemos em nossos dias e que é aceita por grande parte da cristandade.
O Conceito de trindade tem uma base muito forte em conceitos da filosofia grega tais como: o Conceito de Pessoa, Substância e Hipóstase. E o mesmo foi construído ao longo do tempo na história da igreja, na história do cristianismo, dessa maneira, o conhecimento de história, filosofia e teologia nos ajuda para termos uma noção e entendimento, ainda que superficial, do Conceito de Trindade. Como estamos vendo, esse Conceito é um dos mais complexos de se entender, como pode três pessoas serem distintas e ao mesmo tempo ser uma? Bem, vamos ver o que diz o Catecismo:
A Igreja utiliza o termo “substância” (traduzido também às vezes, por “essência” ou por “natureza”) para designar o ser divino em sua unidade, o termo “pessoa” ou “hipóstase” para designar o Pai, o Filho e o Espírito Santo em sua distinção real entre si, e o termo “relação” para designar o fato de a distinção entre eles residir na referência de uns aos outros.[4]
Para isso a história dos concílios foi fundamental, e no início do cristianismo o diálogo com a filosofia grega foi um grande alicerce e muito importante, pois no 2º século, quando o cristianismo ainda estava nascendo, a filosofia já tinha alguns séculos de existência e ela era a base da cultura e do conhecimento para aquele povo. Na época de Jesus e dos apóstolos o mundo era marcado pelo pensamento e pela cultura grega (helenismo), poderíamos dizer que seria algo parecido hoje, em nosso tempo, salvo as devidas proporções, com o que ocorre com a Ciência no mundo ocidental, onde está pautada a nossa cultura e o nosso pensamento em geral, naquela época era a filosofia. No entanto, lembramos que até hoje esse diálogo com a filosofia ainda é primordial e não pode ser dispensado, aliás, ao nosso modo de pensar, todas as “formas de conhecimento” deveriam conversar com a filosofia, sem exceção, a grande diferença hoje é que também temos outra forma de conhecimento: a ciência. Dessa maneira, o diálogo e a interdisciplinaridade foram ampliados.
Continuamos no próximo tópico com a Importância dos Concílios para a Cristologia e a formação do conceito de Trindade.
[1] CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000.
[2] Ibidem. p. 75; CIC 250.
[3] Ibidem, p.75-76; CIC 251.
[4] Ibidem, p. 76; CIC 252.