pintura de Hegel. Dialética Hegeliana

Dialética Hegeliana

Continuando o Texto: Hegel os Gregos e os “Modernos”: uma fissura para a contemporaneidade Agora com a Dialética Hegeliana.

Hegel foi o maior expoente do “idealismo alemão”, que, como decorrência da filosofia kantiana, e em oposição a ela, fato que começou com Fichte e Schelling, desenvolve muito de seu pensamento. Esses dois pensadores tinham procurado tratar a realidade como baseada num só princípio, para superar o dualismo de sujeito e objeto, estabelecido por Kant, segundo o qual só era possível conhecer a aparência fenomenológica das coisas, não sua essência.

O principio básico do idealismo está no próprio homem (na subjetividade), ou seja, se encontra a realidade através do homem e é ele quem “define a realidade”. Grosso modo o oposto do idealismo é o materialismo. Podemos considerar Platão como o primeiro idealista onde, para ele, a realidade estava no “mundo das ideias”, nas formas inteligíveis, atingíveis apenas pela razão.

Mas, para Hegel, o fundamento supremo da realidade não era esse e também não  podia ser o “absoluto” de Schelling nem o “eu” de Fichte e sim a “ideia”, que se desenvolve numa linha de estrita necessidade. A dinâmica dessa necessidade não teria sua lógica determinada pelos princípios de identidade e contradição, mas sim pela “dialética“, realizada em três fases: tese, antítese e síntese. Assim toda realidade primeiro “se apresenta”, depois se nega a si própria e num terceiro momento supera e elimina essa contradição.  Dessa maneira, para Hegel, a dialética é o único método de garantir o conhecimento científico do absoluto e de “elevar” a filosofia à ciência, onde a verdade pode receber a forma rigorosa do sistema de cientificidade, conforme nos lembra Reale que continua…

A dialética nascera no ambiente da Escola de Eléia, principalmente com Zenão, e na grecidade havia alcançado seus vértices com Platão; na era moderna fora retomada por Kant, que porém a privara de verdadeiro valor cognoscitivo. Hegel se remete à dialética clássica, mas conferindo movimento e dinamicidade às essências e aos conceitos universais que, já descobertos pelos antigos, haviam porém permanecido com eles em uma espécie de repouso rígido, quase solidificados. O coração da dialética se torna assim o movimento, e precisamente o movimento circular ou em espiral, com ritmo triádico. Os três momentos do movimento dialético são:

1) a tese, que é o momento abstrato ou intelectivo;

2) a antítese, que é o momento dialético (em sentido estrito) ou negativamente racional;

3) a síntese, que é o momento especulativo ou positivamente racional. (2005, p.106)

Segundo esse esquema, a ideia lógica, o princípio, converte-se em seu contrário, a natureza, e esta em espírito, que é a “síntese” de ideia e natureza: a ideia “para si”. A cada uma dessas etapas correspondem, respectivamente, a lógica, a filosofia natural e a filosofia do espírito. A parte mais complexa do sistema é essa última: o espírito se desdobra em “subjetivo“, “objetivo” e “absoluto“.

O espírito subjetivo é o de cada indivíduo, e o espírito objetivo é a manifestação da ideia na história: sua expressão máxima é constituída pelo estado, que realiza a razão universal humana, síntese do espírito subjetivo e do objetivo no espírito absoluto. Este alcança o máximo do conhecimento de si mesmo, de maneira cada vez mais perfeita, na arte, na religião e na filosofia. Assim, o espírito só chega a se compreender como tal no homem, já que existe “unidade e identidade da natureza divina e da natureza humana”.

O Processo dialético é  um processo racional original,  no qual a contradição não mais é o que deve ser evitado a qualquer preço, mas, ao contrário, se transforma no próprio motor do pensamento, ao mesmo tempo em que é o motor da história, já que esta última não é senão o Pensamento que se realiza. Repudiando o princípio da contradição de Aristóteles, em virtude do qual uma coisa não pode ser e, ao mesmo tempo, não ser, Hegel põe a contradição no próprio núcleo do pensamento e das coisas simultaneamente. O pensamento não é mais estático, ele procede por meio de contradições superadas, da tese à antítese e, daí, à síntese, como num diálogo em que a verdade surge a partir da discussão e das contradições. Uma proposição (tese) não pode se pôr sem se opor a outra (antítese) em que a primeira é negada, transformada em outra que não ela mesma (“alienada”). A primeira proposição encontrar-se-á finalmente transformada e enriquecida numa nova fórmula que era, entre as duas precedentes, uma ligação, uma “mediação” (síntese).

A dialética para Hegel é o procedimento superior do pensamento é, ao mesmo tempo, “a marcha e o ritmo das próprias coisas”. Vejamos, por exemplo, como o conceito fundamental de “ser” se enriquece dialeticamente. Como é que o ser, essa noção simultaneamente a mais abstrata e a mais real, a mais vazia e a mais compreensiva (essa noção em que o velho Parmênides se fechava: o ser é, nada mais podemos dizer), transforma-se em outra coisa? É em virtude da contradição que esse conceito envolve. O conceito de ser é o mais geral, mas também o mais pobre. “Ser”, sem qualquer qualidade ou determinação,  é, em última análise, não ser absolutamente nada, é “não ser”! O ser, puro e simples, equivale ao não-ser (eis a antítese). É fácil ver que essa contradição se resolve no vir-a-ser (posto que vir-a-ser é não mais ser o que se era). Os dois contrários que engendram o devir (síntese), aí se reencontram fundidos, reconciliados.

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Abraços do Benito Pepe

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Ana Lúcia da Silva Ribeiro
11 anos atrás

Olá, eu entendo com mais facilidade o processo dialético como sendo: -síncrese, -análise, -síntese. Penso que a metodologia participativa é a chave para o uso desse método dialético, porque faz o indivíduo pensar, trazer para fora o que tem de conhecimento seu, ou seja, subjetivo, fazer uma análise com o conhecimento objetivo, e então sintetizar e criar seu próprio saber, e portanto um conhecimento significativo. Parabéns ao Benito Pepe pela iniciativa do texto. abraços Ana.

Benito Pepe
11 anos atrás

Olá Ana Lúcia, é isso mesmo! Obrigado pela contribuição!

Abraços, Benito Pepe

Jose Maria Dias
11 anos atrás

Bom meu amigo, em face do exposto pelo texto, temos que analisar dentro de um contexto geral que um individuo tem no seu interior duas forças que exprimem seus desejos e sabedorias adquiridas ou não, primeiro ele satisfaz suas ambições ou idéias pela força da razão, ou age de acordo como manda seu coração, de um modo ou de outro estas forças vem de dentro para fora, criando uma sabedoria filosófica que parte do seu interior. Para mim a nossa mente é a alma do “ SER “ é o que produz tudo aquilo que imaginamos. Vou adentrar um pouco na filosofia psicológica dentro do meu modesto pensamento. Comparo a nossa mente como uma grande cidade, vou citar o ( Rio de janeiro) porque o conheço bem, na nossa mente temos a zona sul, o centro e a periferia. Na zona sul o nosso “ser” viaja através de lembranças de coisas muito boas, como uma viagem onde nos deslumbramos com paisagens de um cruzeiro marítimo, uma excursão montanhosa, grutas maravilhosas,etc. Porem se o “ser” está no centro, a nossa mente nos mostra um mundo agitado com um vai e vem de coisas incessante, já quando abri-se as cortinas da nossa mente, e nos encontramos na periferia o nosso “ser”, procura proteger-se e se resguardar de possíveis surpresas ( não quer dizer que em todo lugar não às tenha tratando-se da cidade).
Para mim Hegel estava correto quando afirmava que a força do nosso pensamento é exatamente que nos impulsiona para as coisas seja abstratas ou reais, quando o nosso” ser” entorpecido pelo cansaço e pela fadiga, mergulha em um sono profundo, muitas vezes ele retrocede no imaginário túnel do tempo e vai buscar “coisas” remotas arquivadas em nosso pensamento, muitas vezes estas “coisas” foram fatos concretos pelos quais passamos, porém em outras vezes, o nosso ser mergulha em um mundo abstrato através dos sonhos e nos leva a um mundo de pura imaginação de “coisas” que ficamos refletindo de onde veio todas aquelas fantasias. Bem sei que o estudo deste tema é bastante complexo, pois estudar o “ser” para mim, além de adentrar na parte filosófica-psicologica do individuo para entender as “coisas do ser”. Mas tudo bem, se eu não cheguei a entender, pelo menos tentei, pois para mim, mais vale uma lagrima pela derrota do que a vergonha de não ter lutado, e aquele abraço do amigo J.M.Dias

Benito Pepe
11 anos atrás

É meu camarada JM Dias, a questão do Ser é sim muito mais abrangente. Mas suas colocações poéticas já embelezam bastante as reflexões dos Entes, que às vezes estão bem Doentes ehehhe
Abraços, Benito Pepe

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