Continuando o texto A Relação entre o Apocalipse, a Escatologia Cristã e a Esperança. Seguimos agora abordando Alguns dos Símbolos contidos no Apocalipse e seus significados. Notaremos que há uma linguagem permeada pela cultura própria de seu tempo e da literatura apocalíptica. Perceberemos também que há o questionamento quanto a um tipo de mundo, o que se propõe, portanto, é o fim desse tipo de mundo, algo que os profetas, especialmente do Antigo Testamento, sempre cobraram e reclamaram veementemente.
Quanto a alguns dos símbolos no Apocalipse temos que lembrar: O “livro selado” é a história humana, e quem pode abrir esse livro? só o próprio Deus tornado homem em Jesus Cristo, e assim Ele dá sentido à história.
O “tempo novo” ou “final dos tempos” é este que vem depois de Cristo, mas não é um “fim do mundo” e sim a vitória do bem sobre o mal. Dessa maneira, como dissemos, não é o fim do mundo e sim o fim de “um tipo de mundo” e surge, portanto, um novo tipo de mundo, ligado a existência humana. Por isso no capítulo cinco do apocalipse há muitos cantos de louvor, adoração e gratidão, pois a esperança está vivificada.
E quanto aos quatro cavaleiros do apocalipse. O que João está mostrando é como a vida era na época do império romano, os cavaleiros representam: ameaças de reinos opostos que iriam atacar o império romano, por culpa deles próprios; um império que se sustenta pela paz violenta, a “Pax Romana”; o outro representa a injustiça social e econômica, que o sustentava; e por fim o quarto cavaleiro que traz a lembrança da morte por causa de tudo isso.
O Apocalipse e a História da Humanidade
Assim o apocalipse desvela a história da humanidade no seu contexto e no seu chão. Como é a vida humana e as situações de dominação etc. Como podemos observar, uma das características da literatura apocalíptica é através da ótica do sofredor obter-se uma abertura para a esperança da mudança que há de vir.
A profecia, como já evidenciamos não se trata de um fim do mundo, mas de um tipo de mundo. Se olharmos para as profecias no antigo testamento, percebemos que o profeta é aquele atravessado pela experiência de Deus e pela experiência no mundo, e assim ele fala ao mundo sobre Deus e Sua vontade quanto ao mundo. Dessa maneira “a profecia é o confronto da sociedade injusta”, a profecia é o evangelho.
Um mundo como se encontrava e como se encontra em nosso tempo é um mundo fadado à morte, à sua autodestruição. A profecia então é um alerta quanto a este tipo de mundo.
Outros pontos que devemos destacar e reafirmar é que o apocalipse está claramente falando do seu tempo e principalmente contra o império romano que dominava aquela região onde os cristãos estavam surgindo. No texto de MESTERS, “Apocalipse de João: esperança, coragem e alegria”, se nota as observações e citações quanto a passagens no apocalipse que relatam essa trama.
Para quem é Escrito o Apocalipse? A questão da cultura e os símbolos
Esta carta, o Apocalipse de João, foi escrito às sete igrejas que estão na Ásia: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Filadélfia, Sardes, Laodicéia (Ap. 1,4), são pequenas comunidades de fé, o autor, no momento de escrever o Apocalipse, estava preso por causa exatamente da sua fé (Ap. 1,9). Lembremo-nos que o número sete, muitas vezes significa todos, talvez por isso ele estivesse escrevendo para todas as comunidades daquela época e para as de hoje.
Quanto aos símbolos que estão contidos no Apocalipse, é importante lembrarmos das questões culturais, cada cultura tem seus significados e assim devemos as observar com atenção. Por exemplo, em um réveillon no Rio de Janeiro, uma prima minha, italiana, apareceu toda de preto, ela estranhou ao entrar e ver quase todos de branco, alguns de amarelo e outros de vermelho. O fato é que o preto significava para ela sofisticação. No Egito, por exemplo, era a cor da esperança, em outros povos o branco é a cor do luto, para nós o verde simboliza a esperança, no Apocalipse significa, fome, morte. Vemos assim que no Apocalipse as cores têm outro significado, de acordo com aquela cultura. Pretendemos destacar esse fato para que possamos pensar em alguns dos outros símbolos do Apocalipse.
As Cores no Apocalipse
Quanto as cores, encontramos em Apocalipse: Branco (Ap. 2,17): vitória, glória, alegria, pureza. Vermelho (Ap. 6,4): sangue, fogo, guerra, perseguição. Preto (Ap. 6,5): fome. Amarelo-esverdeado ou baio (Ap. 6,7): cor de cadáver que se decompõe, doença e morte. Púrpura e escarlate, vermelho vivo (Ap. 17,4): luxo e dignidade real.
Os Números
O mesmo ocorre com os números, cada cultura tem o seu significado e muitas vezes com sentidos opostos. Citamos alguns exemplos para ilustrar, conforme nos lembra MESTERS e OROFINO:
3: Três vezes é o superlativo hebraico: plenitude (Ap 21,13) e santidade (Ap 4,8): 3 x Santo.
4: Número cósmico: os quatro cantos da terra, toda a terra (Ap 4,6; 7,1; 20,8); os quatro elementos do universo: terra, fogo, água, ar. Quadrangular (Ap 21,16): sinal de plenitude e de perfeição. 7: E a composição de 3 + 4. Indica plenitude, perfeição, totalidade (Ap 1,4). Metade de 7 é 3,5 (Ap 11,9). Às vezes se diz “um tempo, dois tempos, meio tempo” (Ap 12,14; Dn 7,25), isto é, três anos e meio. É a duração limitada das perseguições. É o tempo controlado por Deus.
(…)
666: É o número da besta (Ap 13,18). Em grego e em hebraico cada letra tinha um valor numérico. O número de um nome era o total do valor numérico de suas letras. O número 666 é do nome César-Neron conforme o valor das letras hebraicas ou César-Deus conforme o valor das letras gregas. É também o número de maior imperfeição: seis não alcança sete, é só a metade de doze, e isto por três vezes! O número 666 é o cúmulo da imperfeição!
777: É o número de Jesus, o cavalheiro que se chama Fiel e Verdadeiro que julga e combate com justiça com o título “Rei dos reis e Senhor dos senhores” cujo valor das letras hebraicas equivale a 777 (Ap 19,11-16). É também o número da perfeição completa, 7 repetido 3 vezes.
1.000: Designa um prazo de tempo comprido e completo. Reino de mil anos (Ap 20,2). (p. 7-8).
Elementos da Natureza e Mundo Animal
Vemos assim que há muito simbolismo no Apocalipse, lá se encontra também significados, de acordo com aquela cultura, para: Elementos da Natureza e Mundo Animal. Por exemplo, hoje dizemos: “Fulana tem uma boa estrela’.” “João tem saúde de ferro’.” “Aquela menina é uma pérola’.” O mesmo ocorre na Bíblia, como reafirmamos, de acordo com a cultura da época de sua escrita. Outro exemplo, conforme o povo diz: “Não ser papagaio”, “Escutar como coruja”, “Meter o bico em tudo”, “Fulano é um cavalo”, “espírito de porco”, etc. Assim também ocorre na Bíblia com esses termos usados em seu contexto e sua cultura.
Continuamos com a última parte deste artigo seguindo com: Algumas da possibilidades de Interpretação do Apocalipse. Quando tecemos nossas Considerações Finais e apresentamos a Bibliografia e Referências Bibliográficas.
Até lá…
Abraços, Benito Pepe



